Mudando a perspectiva

Mudando a perspectiva

sábado, 13 de novembro de 2010

Caçador de almas

Passava pela rua.
Era a rua que passava em forma de esteira...
Até porque, em sua cabeça o mundo girava apenas em torno de seus problemas, paixões, loucuras, teorias e sonhos.
Sua caminhada lembrava uma sombra que lentamente muda de tamanho de acordo com a aproximação da luz.
E era nesse passo que vinha e vinha em direção ao farol.
Sua figura ia adquirindo proporções maiores a medida que mais perto do farol ficava.
Se sua mente fosse algo material, giraria assim como a grande lanterna do obelisco luminoso de alerta.
O farol sou eu, a câmera no fim da rua. Ele, o ator melancólico, passivo, conformado, lento e cabisbaixo.
A sua sorte era poder pensar na sorte, já que sua vida se encontrava como um grande voodoo dos Deuses.
Uma anêmona. Parecia uma anêmona. Isso define.
Se falasse que era viciado em alguma bebida, acreditaria sem duvidar, no entanto, seu vício era outro:
O amor.
o grande amor.
Não, esse amor não é de Eros, é um amor maior. Uma paixão, obcecado.
Sua tristeza era porque no caminho que passava, nada o refletia.
E digo, ainda bem que nada o refletia, pois a espécie se apresentava da pior mímica, postura e comportamento.
Era pavoroso. Diria que se no fundo algum violino rangesse lentamente e uma nota bem grave de um contra-baixo fosse solta, acreditaria estar vendo um filme de terror.
O pesar.... e devia ser pesado o que sua mente carregava: parecia carregar um piano.
Somente era feliz quando podia se ver. Somente era apresentável nessas situações.
Bom para outros? Nada, os outros são os outros, o importante sempre fora fazer seu ego estourar em lá natural, aos prontos!
Era só, já que não se importava com a presença de segunda ou terceira pessoa, sendo assim, outros não tinham nada que os motivasse a ficar perto.
Não era triste por se sentir só, era indiferente quanto a isso.
O vento podia bater tão forte quanto fosse que ficava na mesma postura. Firme e forte, se não fosse por andar, pombos seriam seus parceiros: estátua seria.
Era tudo que a definição de miserável abrange. Miserável, era essa a palavra que há muito procurava.
Pensei em lhe dirigir a palavra, mas julguei melhor apenas observá-lo.
Como conhecia o estranho na rua?
Eu conhecia, conhecido de uma amiga, mais um daqueles casos em que você se lembra da pessoa por mero acaso e sabe que a pessoa nem deve imaginar que você exista.
Não posso dizer se ele não me reconheceu: ele apenas andava, passou em seu andar claudicante, porém ereto e firme, por mim.
Eu não o via como uma pessoa má ou até mesmo uma pessoa cruel que merecesse um castigo que ele mesmo parecia se impor.
Eu sentia uma mistura de vontade de tirá-lo daquilo com uma vontade de esbofetear firme sua face até que acordasse de tal transe. Eu sabia que era uma boa pessoa, apenas uma grande casca que fazia com que o sol não brilhasse para ele.
Tony. Esse era seu apelido. Provavelmente um Antônio. Antônio carlos? Antônio Roberto? Marco Antônio? Não sei, talvez nunca saberei.
Passou por mim e seguiu até o final da rua, até a ponte.
Subiu na coluna. Fitou o rio. Virou-se e creio que nesse ponto, me viu e teve a noção de que alguém o seguia com os olhos.
Eu parado.
Olhou o suficiente para dizer que não muitas seriam suas ações ainda em vida.
Deixou o peso levar, junto com a mão do vento. Caiu. Sua imagem foi gradativamente saindo do compo de visão. Até que não o via mais. Caiu. Menos de 2 segundos para eu não mais consguir acompanhar sua queda de costas, segundos estes que demoraram horas para passar. O homem caiu me fitando. Conforme sua cabeça ia indo para trás e inclinando, chegando cada vez mais a um grau mais próximo da linha do horizonte, ainda se esforçava para me olhar.
O olhar mais profundo que já vi. Se seus olhos tivesses braços, estariam carregando 400 quilos cada um. Era pesado assim como o mercúrio, muito denso, repleto de perguntas, de questões, de formas de pensar, de coisas não realizadas. era uma lição de vida, no aspecto de servir de exemplo para não ser seguido e para te chocar a ponto de pensar em como se reclama de coisas pequenas: os problemas dele deviam de ser pesados! Cortina de Ferro. definiria assim.
O que fiz foi apenas ir atrás do vestígo de seu corpo: ele ficou no rio. Morto. Era história.

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